sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Um Homem da verdade!

Carta Aberta

Recebida por correio electrónico a seguinte Carta Aberta , e escrita pelo Cap. Ten. AN (R) Manuel Silva Lopes ao Sr. Macário Correia: Exmo. Senhor engenheiro Felizmente, tenho o privilégio de não o conhecer pesoalmente, o que, espero, nunca venha a suceder. Bastou-me ouvi-lo. Mas deixe que me apresente. Sou, com muito orgulho, um oficial superior das FFAA, na reserva, um dos muitos que V. Exa. deliberada e desbragadamente ofendeu na sua entrevista à Rádio Renascença no passado dia 13 de Setembro. Estive algo indeciso se deveria baixar-me ao seu nível para lhe dar a resposta adequada. Mas como “quem não se sente não é filho de boa gente”, acabei por decidir-me a dar-lhe essa resposta, que é estritamente pessoal e sem mandato de ninguém. Desconheço se V. Exa. alguma vez cumpriu serviço militar; mas, pela sua prosódia, decerto desconhece ou ignora os valores porque se pauta a Instituição Militar, infelizmente bem diferentes dos praticados pela generalidade dos agentes da classe política a que V. Exa. pertence. Se não foi à tropa, ter-lhe ia feito bem, pode crer; se foi, andou certamente distraído, ou foi dispensado das aulas de organização e regulamentos para estar presente nalgum qualquer comício ou reunião partidária. Mas queria ainda lembrar-lhe uma coisa: não foram os militares, mas sim os políticos a cuja classe, repito, V. Exa. pertence, que, com as suas acções ou omissões, levaram o País à situação ruinosa e degradante em que se encontra actualmente, que tem bom exemplo, também, na Câmara falida a que V. Exa. preside. Nesta perspectiva, era bom que, tal como os militares que V. Exa. referiu e acusou sem especificar, os políticos nada tivessem feito durante alguns anos. Pelo menos não teriam feito tanto estrago! Quem é V. Exa.? Que excelsa competência julga que possui, para ousar sequer fazer comentários sobre os militares e a Instituição Militar? Por acaso reparou no número de dirigentes políticos existentes no País (alguns que, se calhar, também não fazem nada) em comparação com o número de generais e oficiais superiores a que se referiu? Isto já para não mencionar a situação de que, para terem uma reforma de 80% do vencimento completo (por enquanto), os militares obrigam-se a um código de honra e de conduta que têm de cumprir durante 40 anos, enquanto aos políticos basta passarem três mandatos como deputados na A.R, como Presidentes de Câmara ou de um qualquer Governo Regional, ainda que façam asneiras gravosas para o Erário Público, pelas quais não está (convenientemente) previsto serem criminalmente responsabilizados. Queria ainda lembrar-lhe outra coisa: curiosamente, foram também os militares que permitiram a V. Exa. poder agora proferir publicamente as baboseiras, para educadamente não lhe chamar alarvidades, que vomitou naquela entrevista. Não tenho qualquer consideração pela política nem pelos seus agentes – aliás cada vez menos – e longe de mim criar polémicas ou pretender fazer comparações entre a idoneidade de militares e de políticos, pois estas são impossíveis de estabelecer considerando a prática de vida de uns e de outros, considerando apenas os últimos 37 anos de democracia. Mas tenho 40 anos de serviço efectivo; e não posso, em nome dessa mesma democracia, da carreira que devotadamente abracei e do meu estatuto de militar, permitir que um qualquer pacóvio provinciano invoque a sua qualidade de representante do povo, ainda que legitimamente eleito, para passear impunemente, numa emissora de audiência nacional, a sua estúpida e insultuosa verborreia de escroque arrogante e tendencioso. Até porque foi inútil, porquanto, nesta fase do campeonato, nem sequer lhe capta votos. Sr.engenheiro, quero finalmente lembrar-lhe que todos os animais têm o seu pasto próprio. Portanto, na minha humilde opinião, deveria limitar-se à pocilga que lhe destinaram e à sua pia de lavagem, deixando o prado para as outras espécies. E, já agora, para terminar, permita-me uma sincera e humilde confidência pessoal: PORTUGAL SÓ LÁ VAI COM UMAS ARROCHADAS! Manuel B. Silva Lopes CTEN AN (Res)

sábado, 24 de setembro de 2011

Uma reflexão que vale mesmo a pena

Um professor diante da sua turma de filosofia, sem dizer uma palavra, pegou num frasco grande e vazio de maionese e começou a enchê-lo com bolas de golfe. A seguir perguntou aos estudantes se o frasco estava cheio. Todos estiveram de acordo em dizer que "sim". O professor então pegou numa caixa de fósforos e vazou dentro do frasco de maionese. Os fósforos preencheram os espaços vazios entre as bolas de golfe. O professor voltou a perguntar aos alunos se o frasco estava cheio, e eles voltaram a responder que "sim". ... Logo, o professor pegou uma caixa de areia e vazou dentro do frasco. Obviamente que a areia encheu todos os espaços vazios e o professor questionou novamente se o frasco estava cheio. Os alunos responderam-lhe com um "sim" retumbante. O professor em seguida adicionou duas chávenas de café ao conteúdo do frasco e preencheu todos os espaços vazios entre a areia. Os estudantes riram-se nesta ocasião. Quando os risos terminaram, o professor comentou: - Quero que percebam que este frasco é a vida. As bolas de golfe são as coisas importantes - a família, os filhos, a saúde, a alegria, os amigos, as coisas que vos apaixonam. São coisas que mesmo que perdêssemos tudo o resto, a nossa vida ainda estaria cheia. Os fósforos são outras coisas importantes, como o trabalho, a casa, o carro, etc. A areia é tudo o resto, as pequenas coisas. Se primeiro colocamos a areia no frasco, não haverá espaço para os fósforos, nem para as bolas de golfe. O mesmo ocorre com a vida. Se gastamos todo o nosso tempo e energia nas coisas pequenas, nunca teremos lugar para as coisas que realmente são importantes. Presta atenção às coisas que realmente importam. Estabelece as tuas prioridades...e o resto é só areia. Um dos estudantes levantou a mão e perguntou: - Então e o que representa o café? O professor sorriu e disse: - Ainda bem que perguntas! Isso e só para vos mostrar que, por mais ocupada que a vossa vida possa parecer, há sempre lugar para tomar um café com um amigo."... Uma reflexão que vale mesmo a pena :)

sábado, 17 de setembro de 2011

O Professor

Segundo dia de aulas. Continua o desassossego, com o pessoal a trocar beijos, abraços e confidências, depois desta longa separação que foram 3 meses e meio de férias. Estávamos todos fartos do verão, com saudades uns dos outros. A sala é a mesma do ano passado, no 1º andar e cheirava a nova, tudo encerado e polido, apesar do material já ser mais do que velho. Somos o 7.º A e como não chumbou nem veio ninguém de novo, a pauta é exactamente igual à do ano passado. Eu sou o n.º 34, e fico sentada na segunda fila, do lado da janela, cá atrás, que é o lugar dos mais altos.***** * Hoje tivemos, pela primeira vez, Organização Política e apareceu-nos um professor novo, acho que é a primeira vez que dá aulas em Setúbal, dizem que veio corrido de um liceu de Coimbra, por causa da política. Já ontem se falava à boca cheia dele, havia malta muito excitada e contente porque dizem que ele é um fadista afamado. Tenho realmente uma vaga ideia de ouvir o meu tio Diamantino falar dele, mas já não sei se foi por causa da cantoria se por causa da política. A Inês contou que ouviu o pai comentar, em casa, que o homem é todo revolucionário, arranja sarilhos por todo o lado onde passa. Ela diz que ele já esteve preso por causa da política, é capaz de ser comunista. Diferente dos outros professores, é de certeza. Quando entrou na sala, já tinha dado o segundo toque, estava quase no limite da falta. Entrou por ali a dentro, todo despenteado, com uma gabardine na mão e enquanto a atirava para cima da secretária, perguntou-nos:* * - Vocês são o 7.º A, não são? Desculpem o atraso mas enganei-me e fui parar a outra sala. Não faz mal. Se vocês chegarem atrasados também não vos vou chatear Tinha um ar simpático, ligeiro, um visual que não se enquadrava nada com a imagem de todos os outros professores. Deu para perceber que as primeiras palavras, aliadas à postura solta e descontraída, começavam a cativar toda a gente. A Carolina virou-se para trás e disse-me que já o tinha visto na televisão, a cantar Fado de Coimbra. Realmente o rosto não me era estranho. É alto, feições correctas, embora os dentes não sejam um modelo de perfeição e é bem parecido, digamos que um homem interessante para se olhar. O Artur soprou-me que ele deve ter uns 36 anos e acho que sim, nota-se que já é velho. Depois das primeiras palavras, sentou-se na secretária, abriu o livro de ponto, rabiscou o que tinha a escrever e ficou uns cinco minutos, em silêncio, a olhar o pátio vazio, através das janelas da sala, impecavelmente limpas.* * Enquanto ele estava nesta espécie de marasmo nós começámos a bichanar uns com os outros, cada um emitindo a sua opinião, fazendo conjecturas. Às tantas, o bichanar foi subindo de tom e já era uma algazarra tão grande que parece tê-lo acordado. Outro qualquer professor já nos teria pregado um raspanete, coberto de ameaças, mas ele não disse nada, como se não tivesse ouvido ou, melhor, não se importasse. Aliás, aposto que nem nos ouviu. O ar dele, enquanto esteve ausente, era tão distante que mais parecia ter-se, efectivamente, evadido da sala. Quando recomeçou a falar connosco, em pé, em cima do estrado, já tinha ganho o primeiro round de simpatia. Depois, veio o mais surpreendente:* * - Bem, eu sou o vosso novo professor de Organização Política, mas devo dizer-vos que não percebo nada disto. Vocês já deram isto o ano passado, não foi? Então sabem, de certeza, mais que eu. Gargalhada geral.* * - Podem rir porque é verdade. Eu não percebo nada disto, as minhas disciplinas, aquelas em que me formei, são História e Filosofia, não tenho culpa que me tivessem posto aqui, tipo castigo, para dar uma matéria que não conheço, nem me interessa. Podia estudar para vir aqui desbobinar, tipo papagaio, mas não estou para isso. Não entro em palhaçadas. Voltámos a rir, numa sonora gargalhada, tipo coro afinado, mas ele ficou impávido e sereno. Continuava a mostrar um semblante discreto, calmo, simpático.* * - Pois é, não vou sobrecarregar a minha massa cinzenta com coisas absolutamente inúteis e falsas. Tudo isto é uma fantochada sem interesse. Não vou perder um minuto do meu estudo com esta porcaria. Começámos a olhar uns para outros, espantados; nunca na vida nos tinha passado pela frente um professor com tamanha ousadia.* * - Eu estudaria, isso sim, uma Organização Política que funcionasse, como noutros países acontece, não é esta fantochada que não passa de pura teoria. Na prática não existe, é uma Constituição carregada de falsidade. Portugal vive numa democracia de fachada, este regime que nos governa é uma ditadura desumana e cruel.* * Não se ouvia uma mosca na sala. Os rostos tinham deixado cair o sorriso e estavam agora absolutamente atónitos, vidrados no rosto e nas palavras daquele homem ímpar. O que ele nos estava a dizer é o que ouvimos comentar, todos os dias, aos nossos pais, mas sempre com as devidas recomendações para não o repetirmos na rua porque nunca se sabe quem ouve. A Pide persegue toda a gente como uma nuvem de fumo branco, que se sente mas não se apalpa.* * - Repito: eu não percebo nada desta disciplina que vos venho leccionar, nem quero perceber. Estou-me nas tintas para esta porcaria. Mas, atenção, vocês é outra coisa. Vocês vão ter que estudar porque, no final do ano, vão ter que fazer exame para concluírem o vosso 7.º ano e poderem entrar na Faculdade. Isso, vocês tem que fazer. Estudar. Para serem homens e mulheres cultos para poderem combater, cada um onde estiver, esta ditadura infame que está a destruir a vossa pátria e a dos vossos filhos. Vocês são o amanhã e são vocês que têm que lutar por um novo país.* * Não vão precisar de mim para estudar esta materiazinha de chacha, basta estudarem umas horas e empinam isto num instante. Isto não vale nada. Eu venho dar aulas, preciso de vir, preciso de ganhar a vida, mas as minhas aulas vão ser aulas de cultura e política geral. Vão ficar a saber que há países onde existem regimes diferentes deste, que nos oprime, países onde há liberdade de pensamento e de expressão, educação para todos, cuidados de saúde que não são apenas para os privilegiados, enfim, outras coisas que a seu tempo vos ensinarei. Percebem? Nós temos que aprender a não ser autómatos, a pensar pela nossa cabeça. O Salazar quer fazer de vocês, a juventude deste país, carneiros, mas eu não vou deixar que os meus alunos o sejam. Vou abrir-lhes a porta do conhecimento, da cultura e da verdade. Vou ensinar-lhes que, além fronteiras, há outros mundos e outras hipóteses de vida, que não se configuram a esta ditadura de miséria social e cultural.* * Outra coisa: vou ter que vos dar um ponto por período porque vocês têm que ter notas para ir a exame. O ponto que farei será com perguntas do vosso livro que terão que ter a paciência de estudar. A matéria é uma falsidade do princípio ao fim, mas não há volta a dar, para atingirem os vossos mais altos objectivos. Têm que estudar. Se quiserem copiar é com vocês, não vou andar, feita toupeira, a fiscalizá-los, se quiserem trazer o livro e copiar, é uma decisão vossa, no entanto acho que devem começar a endireitar este país no sentido da honestidade, sim porque o nosso país é um país de bufos, de corruptos e de vigaristas. Não falo de vocês, jovens, falo dos homens da minha idade e mais velhos, em qualquer quadrante da sociedade. Nós temos sempre que mostrar o que somos, temos que ser dignos connosco para sermos dignos com os outros. Por isso, acho que não devem copiar. Há que criar princípios de honestidade e isso começa em vocês, os futuros homens e mulheres de Portugal. Não concordam?* * * * Bem, por hoje é tudo, podem sair. Vemo-nos na próxima aula. Espantoso. Quando ele terminou estava tudo lívido, sem palavras. Que fenómeno é este que aterrou em Setúbal?* *Já me esquecia de escrever. Esta ave rara, o nosso professor de Organização Política, chama-se Zeca Afonso.* * *****

domingo, 22 de maio de 2011

Mãe


Hoje, Mãe, faz anos em que transcendes-te esta vida.
Ganhas-te a liberdade dos justos num corpo celestial e voltas-te a morar pertinho de Deus.
Com a abundância do teu amor, continuas a proteger os teus filhos.
Obrigado Mãe!

sábado, 9 de abril de 2011

Porque silenciam a ISLÂNDIA?

(Estamos neste estado lamentável por causa da corrupção interna - pública e privada com incidência no sector bancário - e pelos juros usurários que a Banca Europeia nos cobra.

Sócrates foi dizer à Sra. Merkle - a chanceler do Euro - que já tínhamos tapado os buracos das fraudes e que, se fosse preciso, nos punha a pão e água para pagar os juros ao valor que ela quisesse.

Por isso, acho que era altura de falar na Islândia, na forma como este país deu a volta à bancarrota, e porque não interessa a certa gente que se fale dele.
Não é impunemente que não se fala da Islândia (o primeiro país a ir à bancarrota com a crise financeira) e na forma como este pequeno país perdido no meio do mar, deu a volta à crise.

Ao poder económico mundial, e especialmente o Europeu, tão proteccionista do sector bancário, não interessa dar notícias de quem lhes bateu o pé e não alinhou nas imposições usurárias que o FMI lhe impôs para a ajudar.

Em 2007 a Islândia entrou na bancarrota por causa do seu endividamento excessivo e pela falência do seu maior Banco que, como todos os outros, se afogou num oceano de crédito mal parado. Exactamente os mesmo motivos que tombaram com a Grécia, a Irlanda e Portugal.

A Islândia é uma ilha isolada com cerca de 320 mil habitantes, e que durante muitos anos viveu acima das suas possibilidades graças a estas "macaquices" bancárias, e que a guindaram falaciosamente ao 13º no ranking dos países com melhor nível de vida (numa altura em que Portugal detinha o 40º lugar).

País novo, ainda não integrado na UE, independente desde 1944, foi desde então governado pelo Partido Progressista (PP), que se perpetuou no Poder até levar o país à miséria.

Num instante, os movimentos cívicos forçaram a queda do Governo e a realização de novas eleições.
Aflito pelas consequências da corrupção com que durante muitos anos conviveu, o PP tratou de correr ao FMI em busca de ajuda. Claro que a usura deste organismo não teve comiseração, e a tal "ajuda" ir-se-ia traduzir em empréstimos a juros elevadíssimos (começariam nos 5,5% e daí para cima), que, feitas as contas por alto, se traduziam num empenhamento das famílias islandesas por 30 anos, durante os quais teriam de pagar uma média de 350 Euros / mês ao FMI. Parte desta ajuda seria para "tapar" o buraco do principal Banco islandês.

Perante tal situação, o país mexeu-se, apareceram movimentos cívicos despojados dos velhos políticos corruptos, com uma ideia base muito simples: os custos das falências bancárias não poderiam ser pagos pelos cidadãos, mas sim pelos accionistas dos Bancos e seus credores. E todos aqueles que assumiram investimentos financeiros de risco, deviam agora aguentar com os seus próprios prejuízos.

O descontentamento foi tal que o Governo foi obrigado a efectuar um referendo, tendo os islandeses, com uma maioria de 93%, recusado a assumir os custos da má gestão bancária e a pactuar com as imposições avaras do FMI.


Foi assim que em 25 de Abril (esta data tem mística) de 2009, a Islândia foi a eleições e recusou votar em partidos que albergassem a velha, caduca e corrupta classe política que os tinha levado àquele estado de penúria. Um partido renovado (Aliança Social Democrata) ganhou as eleições, e conjuntamente com o Movimento Verde de Esquerda, formaram uma coligação que lhes garantiu 34 dos 63 deputados da Assembleia). O partido do poder (PP) perdeu em toda a linha.

Daqui saiu um Governo totalmente renovado, com um programa muito objectivo: aprovar uma nova Constituição, acabar com a economia especulativa em favor de outra produtiva e exportadora, e tratar de ingressar na UE e no Euro logo que o país estivesse em condições de o fazer, pois numa fase daquelas, ter moeda própria (coroa finlandesa) e ter o poder de a desvalorizar para implementar as exportações, era fundamental.

Foi assim que se iniciaram as reformas de fundo no país, com o inevitável aumento de impostos, amparado por uma reforma fiscal severa. Os cortes na despesa foram inevitáveis, mas houve o cuidado de não "estragar" os serviços públicos tendo-se o cuidado de separar o que o era de facto, de outro tipo de serviços que haviam sido criados ao longo dos anos apenas para serem amamentados pelo Estado.
As negociações com o FMI foram duras, mas os islandeses não cederam, e conseguiram os tais empréstimos que necessitavam a um juro máximo de 3,3% a pagar nos tais 30 anos. O FMI não tugiu nem mugiu. Sabia que teria de ser assim, ou então a Islândia seguiria sozinha e, atendendo às suas características, poderia transformar-se num exemplo mundial de como sair da crise sem estender a mão à Banca internacional. Um exemplo perigoso demais.

Graças a esta política de não pactuar com os interesses descabidos do neo-liberalismo instalado na Banca, e de não pactuar com o formato do actual capitalismo (estado de selvajaria pura) a Islândia conseguiu, aliada a uma política interna onde os islandeses faziam sacrifícios, mas sabiam porque os faziam e onde ia parar o dinheiro dos seus sacrifícios, sair da recessão já no 3º Trimestre de 2010.
O Governo islandês (comandado por uma senhora de 66 anos) prossegue a sua caminhada, tendo conseguido sair da bancarrota e preparando-se para dias melhores. Os cidadãos estão com o Governo porque este não lhes mentiu, cumpriu com o que o referendo dos 93% lhe tinha ordenado, e os islandeses hoje sabem que não estão a sustentar os corruptos banqueiros do seu país nem a cobrir as fraudes com que durante anos acumularam fortunas monstruosas. Sabem também que deram uma lição à máfia bancária europeia e mundial, pagando-lhes o juro justo pelo que pediram, e não alinhando em especulações. Sabem ainda que o Governo está a trabalhar para eles, cidadãos, e aquilo que é sector público necessário à manutenção de uma assistência e segurança social básica, não foi tocado.
Os islandeses sabem para onde vai cada cêntimo dos seus impostos.
Não tardarão meia dúzia de anos, que a Islândia retome o seu lugar nos países mais desenvolvidos do mundo.
O actual Governo Islandês, não faz jogadas nas costas dos seus cidadãos. Está a cumprir, de A a Z, com as promessas que fez.
Se isto servir para esclarecer uma única pessoa que seja deste pobre país aqui plantado no fundo da Europa, que por cá anda sem eira nem beira ao sabor dos acordos milionários que os seus governantes acertam com o capital internacional, e onde os seus cidadãos passam fome para que as contas dos corruptos se encham até abarrotar, já posso dar por bem empregue o tempo que levei a escrever este artigo.

Francisco Gouveia, Eng.º

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Estado de Espirito


"Diariamente recordo o Caminho, não só por ser cristão, nem só por ser caminhante, por ser amante da natureza, por gostar de deambular por montes e vales, por cultivar a poesia, de ouvir o vento soprar nas folhas mais altas dos carvalhos, por amar ver o céu e a terra renascer em cada dia,.. Caminho é assumir ser o que gosto partilhar.. "Ser eterno Peregrino"... (in Diário do Peregrino de Santiago, fb)

domingo, 13 de fevereiro de 2011

O livro da minha vida…

Emoções inesquecíveis, prazeres renovados.
Há livros que são meus amigos desde a infância. São textos que li e reli e que me têm acompanhado ao longo da vida. Às vezes, esqueço-me deles mas, mais tarde ou mais cedo, a eles volto para os redescobrir. Com a maturidade vem o desafio intelectual, vêm as interpretações, e, no meu caso, obrigou-me a áreas mais técnicas. Mas fica sempre algo da primeira paixão, que o tempo se encarrega de enriquecer com novas descobertas, novas interpelações e, com elas, novos prazeres da leitura. Na recordação destes livros, e dos diferentes momentos em que fui ao seu encontro e que com eles me envolvi, manifesta-se também o meu próprio caminho.
Quero falar sobre esta paixão da leitura, folheando, mais uma vez, as páginas dos livros da minha vida. Quero partilhar os meus livros e a minha experiência com quem se interessar.
Escolher o “livro da minha vida” não é uma tarefa fácil. Imagino que o não seja para qualquer pessoa que como eu, goste de ler. A verdade é que as pessoas, há semelhança dos gatos, têm muitas vidas (ou se preferirmos, em cada um de nós há mais do que uma pessoa) e para cada uma delas haverá certamente um livro. Por esse motivo, quando recebi a proposta de escrever um texto sobre o “livro da minha vida”, foram vários os títulos que me foram surgindo mas nenhum me parecia o adequado: O Nome da Rosa, As palavras que nunca te direi, Expiação, Queimada Viva, Anjos e Demónios, a Escola da Vida, …
Inicialmente, pensei em optar por “As palavras que nunca te direi”, de Nicholas Sparks. Este foi talvez o livro que mais me marcou. Primeiro porque foi dos primeiros romances que li; Depois porque este livro é sem dúvida o ex-libris daqueles que se auto-intitulem de românticos - apesar de na minha opinião, a história ser um pouco fantástica demais. Este livro aborda um tema muito sensível, a redescoberta do amor, o voltar a amar depois de se perder o amor de uma vida, depois de pensar que se deixou de viver e que já nada faz sentido. Theresa Osborne é divorciada e tem um filho; vivia um casamento na sua opinião perfeito, até descobrir que o marido a traia. Passados 3 anos vê-se envolvida numa história que a vai levar numa viagem, envolvendo-a como ela nunca imaginou. Tudo começa, num dia em que Theresa passeava à beira-mar e descobre uma garrafa fechada que continha lá dentro uma folha de papel. Curiosa, como não podia deixar de ser, Theresa abre a garrafa e encontra uma lindíssima mensagem de amor, uma carta de alguém muito apaixonado, que encontrou esta forma de contar ao mundo a dimensão do seu amor. A carta, de alguém chamado Garret, tem como destinatário Catherine, sendo esta a única informação de que Theresa dispõe. Sensibilizada pela ternura das palavras e por tal demonstração de amor na sua forma mais pura, Theresa, que é jornalista, decide investigar para tentar descobrir algo mais sobre o autor da carta, Garret, intrigada à partida pela pessoa que este Garret será para fazer tal demonstração de amor. Theresa, aproveita o facto de ser jornalista e publica a carta, sem mencionar nomes. Qual não é o seu espanto quando descobre mais duas cartas que foram descobertas, em sítios diferentes. Tudo isto faz com que o seu desejo de encontrar o misterioso escritor, se torne em algo bastante forte, e que não irá desaparecer enquanto ela não descobrir quem ele é. Finalmente, o escritor é associado a um nome, Garrett Blake, um professor de mergulho que mora no estado da Carolina do Norte, numa pequena localidade piscatória. Completamente fascinada por este homem, Theresa viaja até a Carolina do Norte, num impulso quase que apaixonado, com a finalidade de o encontrar e, apenas isso, ver o homem por detrás das cartas, sem mais planos. Mas é claro que a história não poderia ser tão simples assim, quando à partida Theresa já nutre sentimentos tão fortes sem sequer conhecer Garret. Eles conhecem-se, ganham uma amizade que se vai tornar num amor, e eles apaixonam-se. No entanto, Garret não sabe que as suas cartas foram lidas e muito menos que Theresa sabe da sua existência e que as leu. Mas antes que Theresa decida contar-lhe, Garret descobre tudo e a história leva aqui uma reviravolta. Garret sente-se traído e perde toda a confiança que tinha em Theresa. A história não acaba como se imagina, o que dá uma noção de quão fantástica é. É talvez sentimental demais. Afirmo isto apesar de ter gostado do livro. Em minha opinião, está bem escrito, todos os locais e acontecimentos estão muito bem retratados, conseguindo imaginá-los na minha cabeça.
Ainda considerei outra obra, mundialmente conhecida e que criou muita controvérsia. Um livro polémico, sem dúvida, a obra de Dan Brown intitulada O Código Da Vinci. Como muitas pessoas, tomei conhecimento desta obra no verão de 2003. Foi uma oferta da minha esposa. Comecei a ler O Código Da Vinci de uma forma ávida. Foi o livro que li mais rapidamente. Fiquei fascinado. Não conseguia simplesmente largá-lo. O Código Da Vinci é um romance de ideias. A despeito do que se possa dizer sobre alguns diálogos canhestros e inverosimilhanças da intriga, o facto é que Dan Brown soube construir uma história de mistério, acção e aventura combinando eficazmente ideias altamente complexas com pensamentos fragmentários e pequenos detalhes. A nossa cultura está continuadamente à procura de oportunidades para satisfazer a imaginação colectiva com algo mais do que informação intelectual de baixa categoria. Mesmo entre os escritores mais eruditos e intelectuais, são pouquíssimos os que escrevem actualmente romances que lidam com grandes conceitos históricos, filosóficos e cosmológicos. E, no caso destes últimos, a maioria produz romances de difícil compreensão, até para a média dos leitores instruídos e sofisticados. Dan Brown trouxe-nos um fascinante mundo de ideias e conceitos. Abrimos a primeira página do livro, deparamo-nos com Saunière, cambaleando pela Grande Galeria do Louvre às dez e quarenta e seis da noite e somos em seguida arrastados para uma empolgante viagem através da História da civilização ocidental. Em nenhum momento o romance nos obriga a realizar grandes voos mentais, mas deixa palavras-chave a cada página para aqueles que têm intenção de aprofundar a matéria. Tal como Ulysses, de James Joyce, O Código Da Vinci é uma narrativa de acontecimentos que se desenrolam num único período de 24 horas. Como Finnegans Wake, também de James Joyce, termina no mesmo lugar onde começa. É claro que Dan Brown leva muito a sério a forma literária. Talvez jogue com os factos de maneira mais veloz e livre do que alguns gostariam, mas a sua capacidade condensa extensas discussões intelectuais e religiosas em réplicas curtas e de rápida compreensão é, sem dúvida, uma forma de arte. Isso não significa que O Código Da Vinci seja . A corrida para desvendar os segredos do genoma humano, para ir a Marte, para entender o BIG BANG e comprimir a comunicações em bits digitais sem fio – tudo isso, é, de certa forma, a demanda do Santo Graal. Uma espécie de milenarismo atrasado. Quando há poucos anos ocorreu a verdadeira mudança de milénio, muitos observadores surpreenderam-se com a fraca manifestação da febre milenarista. Mas então vieram o 11 de Setembro, os actos apocalípticos de terrorismo, as guerras do Afeganistão e no Iraque, as explosões de violência por todo o Médio Oriente, tudo com a marca do extremismo religioso e a mesma retórica fé versus infiéis do tempo das Cruzadas. O nascimento da nossa nova era começou, finalmente, a ganhar um aspecto mais milenar. ‘O Código Da Vinci’ segue essa mesma linha, indo extrair os principais elementos de sua intriga a mil e dois mil anos atrás – Os primórdios da era cristã e das Cruzadas. Esta obra responde de muitas formas ao novo modo de pensar o papel da mulher na nossa cultura. O Autor resgatou Maria Madalena da sua fama de pecadora, de penitente e de prostituta. No livro, até mesmo a inteligente e sofisticada Sophie Neveu a vê dessa forma até ser esclarecida por outras duas personagens, Langdon e Teabing. Ouso dizer que considero provável que um grande número de pessoas tenha aprendido, ao ler o ‘O Código Da Vinci’ , que Maria Madalena já não é considerada prostituta desde as clarificações oficiais da igreja católica apostólica romana na década de 1960. Contudo, mil e quatrocentos anos de fama de pecadora não é algo que se supere facilmente. E O Código Da Vinci’ levou essa correcção que a igreja fez com toda a descrição para o amplo conhecimento e debate público. E não foi só isso. O Código Da Vinci sustenta que Maria Madalena, muito mais do que «não prostituta», foi uma personalidade forte e independente, autora de um evangelho próprio, mecenas de Jesus e co-fundadora do seu movimento, a única que lhe foi fiel na hora que Ele mais precisou, sua parceira amorosa e mãe do seu filho. Para milhões de mulheres que ainda hoje se sentem menosprezadas, discriminadas ou indesejadas em igrejas de todos os credos, o romance é uma oportunidade de ver a história da religião a uma luz inteiramente nova. Assim como as mulheres vêm descobrindo novas heroínas pioneiras em todos os ramos de actividade ao longo dos últimos trinta anos, O Código Da Vinci abre os olhos de todos para uma visão espantosamente distinta do vigoroso papel da mulher na origem do cristianismo. O livro é uma revelação de como a metade feminina da equação humana foi, quem sabe, deliberadamente suprimida por motivos políticos com a ascensão do poder institucional centralizado da Igreja Católica Apostólica Romana. Os factos apresentados n’ O Código Da Vinci - acontecimentos reais, comprovados – contam uma história que muita gente não conhece. Por exemplo, o sacerdócio não era vedado às mulheres nos primeiros dias da Igreja e o celibato dos padres só se tornou uma regra seis séculos depois de Cristo. Além disso, Maria Madalena não é a única personalidade feminina importante nos Evangelhos tradicionais. Várias mulheres de destaque são nominalmente mencionadas, a maioria das quais permaneceu ignorada mesmo pelos fiéis da época. É claro que a Virgem Maria, mãe de Cristo, tem há muito tempo uma legião de seguidores profundamente dedicados. E tornou-se, nos anos recentes, uma figura ainda mais importante na Igreja – tendência que o Papa João Paulo II incentivou. Mas a nova imagem de Maria Madalena pintada por Dan Brown – poderosa, forte, independente, inteligente, porta-estandarte do cristianismo muito depois da morte de Cristo e, além disso, por que não, sensual, faz dela uma figura mito mais acessível e humana do que a Virgem Maria, altiva e perfeita. A minha conclusão pessoal é que O Código Da Vinci é uma fascinante e bem elaborada obra de ficção, construída, do principio ao fim, com uma interessante pormenores de factos pouco conhecidos e provocações estimulantes, mesmo se consideravelmente especulativas. Compreende-se o seu grande valor quando o lemos como um livro de ideias e metáforas – um caderno de anotações ao estilo de Leonardo da Vinci, que ajuda o leitor a reflectir sobre a sua própria filosofia, a sua cosmologia, as suas crenças religiosas e as suas críticas. O Código Da Vinci é um romance. É entretenimento. É algo para se desfrutar. Parte do seu interesse, pelo menos para mim, reside em seguir as suas ideias e linhas de discussão, em compreender as relações que estabelece. O Código Da Vinci é essencialmente isso.
Apesar das obras atrás mencionadas serem importantes para mim, porém, acabei por optar por outra obra, de alguma forma distinta destas. Mas não quis deixar de as nomear, porque quando falamos de um dos nossos amigos, não ficamos impossibilitados de mencionar os outros.
O “livro da minha vida” que escolhi foi escrito por um Senhor da literatura portuguesa chamado Eça de Queirós e intitula-se

. Considerado o primeiro romance realista da língua portuguesa, O Crime do Padre Amaro revelou o maior romancista português e chocou a sociedade da época com sua denúncia da hipocrisia social e religiosa. Romance anticlerical dos mais ferozes, decorre em Leiria, onde o Padre Amaro Vieira, ingénuo e psicologicamente fraco, vai assumir a sua paróquia. Hospeda-se na casa de S. Joaneira, onde se envolve sexualmente com a filha daquela, Amélia. Amaro conhece, então, o cinismo dos seus colegas, que em nada estranham a sua relação com a jovem. Grávida, Amélia acaba por morrer no parto e Amaro entrega a criança a uma "tecedeira de anjos". Morta também a criança, Amaro, agora um cínico descarado, prossegue com a sua carreira. O romance, que critica violentamente a vida provinciana e o comportamento do clero, foi, durante décadas, leitura proibida em muitas escolas. A intenção de Eça ao escrever o Crime do Padre Amaro não era apenas a denúncia dos vícios do clero devasso, mas também apresentar a vida mesquinha duma cidade provinciana portuguesa. Assim, não só Amaro e Amélia, as personagens centrais são criticadas pelo narrador, também as personagens secundárias são utilizadas para revelar as mazelas da sociedade em que estão inseridas. O protagonista do romance é filho de dois criados do marquês de Alegros. Perde os pais ainda criança e é educado no meio da criadagem da marquesa, o que faz com se torne "enredador. Muito mentiroso." A marquesa decide que ele se tornaria padre, e assim, aos quinze anos, é mandado para o seminário. É fraco tanto a nível físico como a nível psicológico. Aceita o sacerdócio passivamente. Por influência do conde de Ribamar, obtém a paróquia de Leiria, hospedando-se na casa da S. Joaneira. Ali conhece Amélia, filha da sua hospedeira, que se torna sua amante. O ambiente da casa da marquesa, onde fora criado, e o seminário moldaram o carácter de Amaro. Já sacerdote em Leiria, espanta-se, ao início, com o cinismo explícito dos seus colegas de batina, mas todas estas situações, somadas ao ambiente de servilismo beato da casa onde está hospedado, fazem com que se atole em acções desonrosas, como entregar o seu filho a uma "tecedeira de anjos", onde a criança acabaria por morrer. No final do romance, torna-se idêntico aos seus pares. Um diálogo entre Amaro e o cónego Dias, mostra, de forma clara, como Amaro e os outros eclesiásticos representam o clero, sem qualquer vocação e de forma hipócrita. Os dois reflectem sobre os excessos do comunismo, afirmam que seus seguidores merecem a masmorra e a forca porque não respeitam o clero e "destroem no povo a veneração pelo sacerdócio", caluniando a Igreja. Então, uma mulher provocante passa diante deles e ambos trocam olhares cúmplices. O cónego exclama: "- Hem, Padre Amaro?... Aquilo é que queria confessar" E Amaro responde: " - Já lá vai o tempo, padre-mestre - disse o pároco rindo - já as não confesso senão casadas!”.
A co-protagonista do romance concentra, na sua figura, o resultado trágico de uma formação num meio provinciano e atrasado, centrado em torno do poder eclesiástico. A sua casa é um beatério, centro de convivência dos poderosos e imorais sacerdotes da cidade, onde que impera a futilidade dos rituais e uma mutabilidade dos conceitos religiosos cristãos. Nesta sociedade, a Igreja é parte activa do poder político, que a utiliza nas suas manobras eleitoralistas e que lhe dá privilégios sociais, prestígio e poder. Amélia vive, portanto, rodeada de cónegos e padres. Aos 23 anos, alta, forte e "muito desejada", possui um temperamento sentimental, romântico e fortemente sensual. Órfã de pai, a sua mãe é amante do cónego Dias sendo uma devota simplória e passiva, atraída pelo ritual católico. Namora João Eduardo, escrivão de cartório. Conhece, então, o Padre Amaro, pároco da Sé de Leiria, hóspede na casa da sua mãe. Apaixona-se e entrega-se a ele com total submissão. Fica grávida e esconde-se numa quinta próxima da cidade, acompanhada por uma fanática beata, irmã do cónego Dias. Recebe então, a visita do abade Ferrão, único sacerdote decente do romance. Ele tenta recuperá-la para uma vida normal e digna e quer tirá-la da influência nefasta de Amaro. No entanto, Amélia morre no parto. O narrador do romance, na terceira pessoa, apresenta as personagens secundárias com grande dose de ironia e uma certa antipatia. Fica evidente a antipatia do narrador pelo círculo de amigos da S. Joaneira (Maria Assunção, Josefa Dias, Joaquina Gansoso e o beato homossexual Libaninho). O mesmo ocorre em relação aos colegas de Amaro (cónego Dias, padre Natário e padre Brito), pois o narrador parece convencido antecipadamente de seus vícios e indecências. O único religioso que é excluído deste círculo é o abade Ferrão, apresentado como uma personagem coerente com seus ideais. A ironia do narrador não é restrita aos religiosos, estendendo-se para o contexto social de Leiria. Outras personagens são apresentadas de forma sarcástica: o jornalista Agostinho Pinheiro; o venal Gouveia Ledesma, o burguês reaccionário Carlos. Neste ambiente, João Eduardo, noivo de Amélia, enciumado com as atenções da jovem ao padre Amaro, escreve um artigo anónimo “Comunicado” na “Voz do Distrito”, criticando a convivência de padres com amantes. Rompe-se o noivado: Amélia torna-se amante do padre Amaro.
Escolhi este livro, como o livro da minha vida, porque é uma história inspirada no perfume de um romance proibido, na luta entre o bem e o mal, de valores, honra e a controvérsia da dignidade. Uma conjuntura idêntica à vivida por mim na minha infância e adolescência. Conseguiu transmitir-me que somos todos seres humanos e que devemos ser respeitados independentemente dos nossos ideais, costumes e cultura, porque se não o fizermos podemos magoar quem realmente amamos.

gms